sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

CRÍTICA - Inserções em Circuitos Mitológicos - Gian Shimada

Instalação/Site especific. 
Dimensão variável. Gian Shimada. 2012.

Em 1970 Cildo Meireles inaugurou as Inserções em Circuitos Ideológicos com o seu Projeto Coca-Cola que consistia no aproveitamento da embalagem retornável da bebida para lançar dizeres que subvertiam sua ideologia implícita e que novamente circulavam sem qualquer controle de censura prévia em voga naquele período de nossa história. Uma ideia simples que modificou também o modo de ver uma obra de arte. Porém, tal foi sua magnitude que elevou esse projeto a outro patamar dentro da própria História da Arte - o da transcendência.

Esse caráter mítico é explorado por Gian Shimada em sua série Cordel Cultural que incide sobre a própria base do desejo (do artista). Vivemos momentos diferentes daqueles de 40 anos atrás. A democracia da qual podemos usufruir responde hoje por anseios de realização pessoal. Gian nos oferece então, como limite do olhar, o alcance do sucesso que, em seu material de trabalho, recai nos livretos, catálogos, informativos, etc. de peças de divulgação institucionais no circuito das artes visuais. Ele resgata o descarte para neles gravar sua ação restituindo-os agora como objetos artísticos àqueles espaços que servem de palco para mostras de arte. 

Seu processo corresponde ao de uma engenharia reversa cuja finalidade é reavivar legados que, por uma razão qualquer, ficaram adormecidos na memória. Formalmente oferece uma estética popular em contraponto ao rigor conceitual na origem de sua confecção e assim, relaxado das questões exigidas na fatura, deixa ao observador um múltiplo universo poético visual.


Osvaldo Carvalho

Artista visual, mestre em poéticas visuais pela ECA-USP, curador independente e sócio do Espaço Eu Vira

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